"...tornar-se um professor crítico se (...) fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de memória - não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro."
Paulo Freire

sexta-feira, 18 de março de 2011

A construção social da criança: o que isso significa?

O conceito “criança” é construído histórica e socialmente, sendo que ao logo dos tempos vem sofrendo transformações. Podemos encontrar diferentes maneiras de ver a criança, até num mesmo tempo histórico e numa mesma sociedade. A exemplo, na sociedade brasileira, dependendo da classe econômica ou grupo regional ou étnico, é possível considerar a criança de uma forma diferente. Ora ela pode ser capaz de vivenciar atividades junto com os adultos (grupos indígenas); ora ela pode ser considerada incapaz de realizar tais atividades (tal comportamento é mais perceptível em grupos economicamente mais abastado), pois geralmente existe a presença de um adulto para cuidar e proteger essa criança. Desse modo, a concepção adotada, interfere no comportamento assumido com relação à criança, interferindo no seu presente e também no seu futuro.
            Analisando a história é possível observar diferentes comportamentos com relação à criança. Alguns dos estudos nessa área, leva em consideração a representação da criança através da arte ao longo dos séculos.
Ariés em seus estudos aborda a “descoberta da infância”, ao trazer “até por volta do século XIII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la” (1981, p.50), muito provavelmente não havia espaço para a infância nesse tempo e ele continua “a infância era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo perdida” (1981, p. 52). Já nos séculos XV e XVI, as crianças passaram a se fazer mais freqüente nas pinturas, geralmente relacionadas ao seu cotidiano e sempre com a presença de adultos, o que passava a idéia de fragilidade da criança e a necessidade de proteção, talvez relacionada ao alto índice de mortalidade infantil que ocorria na época. A representação da criança sozinha começou a surgir no século XVII, “que se tornou o centro da composição” familiar (1981, p. 65). Em contrapartida a proteção da criança, surgiu nesse período, o sentimento de discipliná-la, para ser transformada num adulto moralmente correto; essa disciplina passa a ser de responsabilidade da família, portanto, a criança incorpora um lugar de destaque no seio familiar.
Entre os séculos XVIII e XIX as famílias passam a colocar a educação de seus filhos sob a responsabilidade de internados, que desenvolviam uma educação rígida, pois continuava a preocupação em disciplinar as crianças para formar adultos racionais e com valores morais e cristãos. Essa instituição era voltada a classe economicamente mais privilegiada.
Nos séculos XIX e XX começam a surgir escolas voltadas a atender as crianças. Algumas dessas instituições eram voltadas a classe mais pobre e tinha um caráter assistencialista e as que eram voltadas a classe mais privilegiada, surgia com o interesse de educar as crianças. A educação oferecida nesses estabelecimentos continuava seguindo a mesma linha de pensamento dos séculos anteriores, que viam a criança como pessoas que precisam ser educadas para exercer uma função social no futuro.
A questão que passou a ser cogitada na segunda metade do século XX é como enxergamos a criança nos dias atuais: como alguém que virá a ser ou como alguém que já é? Pois, a forma como vemos a criança, interfere nas tomadas de decisões com relação à educação que é oferecida a ela. Vemos a criança como alguém que não tem conhecimentos, que precisa receber os conhecimentos construídos pelo homem ao longo da história de forma passiva e que precisa ser educada para o futuro. Ou a vemos como alguém que já é um ser, que tem opiniões com relação ao mundo, sendo transformada por ele e transformando-o e que precisa receber uma educação voltada para os conflitos que ela tem hoje.
É importante pensar como a criança é vista no século XXI, como a vemos e que educação queremos oferecer a ela. É necessário “compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo” esse “é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais” (RCNEI, 1998, p. 22).

REFERÊNCIAS:

ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1981.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Introdução. Brasília: MEC, 1998.

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